domingo, 28 de junho de 2009

Golpe militar em Honduras

Do BBC News:

Troops detain Honduran president

Troops in Honduras have detained the president ahead of a referendum on plans to change the constitution.

President Manuel Zelaya's secretary said he had been taken to an airbase outside the capital, Tegucigalpa.

Mr Zelaya, elected for a non-renewable four-year term in January 2006, wanted a vote to extend his time in office.

The referendum, due on Sunday, had been ruled illegal by the Supreme Court and was also opposed by Congress and members of Mr Zelaya's own party.

Reuters news agency reports that soldiers fired teargas at about 500 supporters of Mr Zelaya who had gathered outside the presidential palace, as air force jets flew over the capital.

Reportagem completa AQUI.

terça-feira, 16 de junho de 2009

domingo, 14 de junho de 2009

Paulo Henrique Amorim: O preconceito por trás da idéia de que os tucanos não se “comunicam”

. Zé Pedágio*, o Eterno Futuro Presidente, já defendeu essa idéia.

. A matriz é o Farol de Alexandria**, aquele que iluminava a Antiguidade e desapareceu num terremoto.

. Qual é a idéia ?

. Os tucanos (especialmente os de São Paulo) são os melhores, os mais bem preparados, os que leram os livros certos, os que sabem das coisas, os que usam a roupa certa, que falam francês, que sabem usar os talheres, que são cheirosos.

. Eles são os “engomados”, como se dizia no México, os “engenheiros”, ou, hoje, os “economistas”.

. Eles é que são competentes.

. Como Serra, que se diz “economista competente”, embora não seja nem um nem outro.

. No Governo, eles são de uma eficiência sem igual.

. O problema é que, às vezes, o povo não percebe isso.

. De quem é a culpa ?

. Primeiro, do povo, uns ignorantes: mas os tucanos (especialmente os de São Paulo (*)) não podem dizer isso em voz alta.

. Então, eles dizem, num gesto de invulgar humildade, que a culpa é deles mesmos, que não sabem se “comunicar”.

. O mesmo raciocínio se completa com a idéia de que Lula sabe se “comunicar”.

. E que é por isso que ele ganha as eleições (passadas e futuras).

. Simplesmente, porque ele sabe se “comunicar”.

. Porque ele fala ao povo ignorante, que não percebe as virtudes incomparáveis dos tucanos.

. É esse pessoal do Bolsa Família, do aumento real do salário mínimo, do Pro-Uni, do Crédito Consignado, do Minha Casa, Minha Vida, do Luz para Todos – os beneficiários do assistencialismo populista, entregue por um “comunicador” excepcional.

. Essa a desvantagem dos tucanos – eles dizem.

. O “outro” se “comunica”.

. Qual é o preconceito atrás disso ?

. Primeiro, o Lula não tem mensagem, só tem meio.

. Não tem conteúdo, só tem forma.

. E os tucanos paulistas, prenhes de idéias e conteúdo genial não conseguem botar tudo isso para fora, porque não se comunicam, porque não são populistas, demagogos – como o “outro”.

. O segundo preconceito atrás dessa idéia é que o povo é um conjunto de néscios, que não sabe distinguir seus interesses ou quem os defenda.

. E vai na lábia, no trololó do “comunicador”.

. O povo é otário.

. Ou, como dizia o pai de Zé Pedágio e do Farol, o Brigadeiro Eduardo Gomes, outro Eterno Futuro Presidente: são uns “marmiteiros”.

. Vamos supor, amigo navegante, que os tucanos se “comuniquem” e as idéias do partido sejam “comunicadas” por Jô Soares, Ana Maria Braga, Regina Duarte, Miriam Leitão, William Bonner e Waack, Lucia Hippolito – os mestres da “comunicação”.

. Em lugar das olheiras e das gengivas intermináveis do Zé Pedágio, as olheiras do William Waack.

. Em lugar dos períodos longos e insondáveis do Farol de Alexandria, o português escorreito e direto da Miriam Leitão.

. Qual seria o resultado ?

. Nenhum.

. Sabe por que, amigo navegante ?

. O problema dos tucanos não é a “comunicação”, a forma.

. O problema deles é o conteúdo.

. Porque os tucanos não tem uma única idéia a “comunicar”.

Paulo Henrique Amorim

* José Serra
** FHC


Link original AQUI.

sábado, 13 de junho de 2009

O interesse velado de Serra


Está na Folha do dia 10/06 a afirmação de Serra que a PM agiu corretamente no confronto com estudantes da USP ocorrido na semana passada, na qual se utilizou de métodos truculentos consubstanciados no uso efetivo de balas de borracha e bombas de efeito moral, além, obviamente, dos tradicionais cacetetes. Um posicionamento no mínimo paradoxal para quem foi presidente da UNE no ápice do período da repressão.

Os manifestantes clamavam por reajuste salarial de 16%, mais R$ 200 fixos, além do fim de processos administrativos contra servidores e alunos que participaram de protesto anterior --que resultou em dano ao patrimônio. A manifestação era pacífica, segundo representantes do movimento, não justificando a desproporcionalidade da conduta policial.

Meio a esse ocorrido, é pertinente fazer uma breve análise acerca dos interesses escusos por trás da afirmação de José Serra. É natural que o presidenciável tucano, em virtude do conturbado histórico de sua gestão para com os estudantes da USP, não avalizaria em hipótese alguma as manifestações estudantis até mesmo por serem contra o governo. Todavia, o que se configura como uma inegável idiossincracia é justamente o fato de José Serra ter se colocado tão incisivamente ao lado dos policiais, mesmo com o notório excesso de força por eles utilizado.

Cumpre que se enxergue a situação acima descrita a partir de um contexto que vem sendo construído há algum tempo, o qual envolve o trinômio Serra, universitários e PM.

Percebamos que Serra não avalizou o incidente de forma leviana e desplanejada: a polícia de São Paulo, ao menos até três anos atrás, possuia o 2º menor salário do País, mesmo com a demanda altíssima por segurança que uma metrópole da porte de São Paulo enseja. O governo tucano é extremamente impopular ante a polícia militar, fato que ficou evidenciado após os ataques do PCC à capital paulista no ano de 2006.

Observemos também, do outro lado, que Serra no início de 2007 emtiu uma série de decretos que gerou grandes protestos na mesma USP em virtude da retirada considerável de sua autonomia. Houve na época a ocupação da reitoria bem como conflitos contra a polícia - sem a mesma violência de agora, até onde lembro.

O episódio foi uma nódoa na trajetória política de Serra, pois com os decretos que retiravam da reitoria a autonomia de remanejar verbas para setores da Universidade, devendo estas a partir de então passarem pelo crivo do governo estadual, burocratizar-se-ia o processo, tornando menos célere e eficaz a aplicação de recursos nas mais diversas áreas do campus. Existiram também outros decretos da mesma forma alvo de protestos, como os que separavam o ensino superior das escolas técnicas.

Notemos então que o eleitorado da USP é extremamente hostil a Serra, eleitorado este que não é volúvel como a maioria, maioria na qual se inclui a própria PM.

Agora reflitamos: entre a PM e os estudantes, adivinhe qual dos lados traria maiores dividendos eleitorais? Qual dos dois lados, tradicionalmente aversos a gestões tucanas, é mais flexível e propício a se sensibilizar eleitoralmente com José Serra?

Nada e despremeditado. Podem acreditar.

Nuno Mindelis

No Brasil também se faz blues.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

The Economist: Brasil será dos primeiros a sair da crise

MAIS UM ADERE À TESE DA MAROLINHA!
Link original AQUI.

Brazil's recovering economy

Ready to roll again

Jun 11th 2009 | SÃO PAULO
From The Economist print edition

Among the last to fall into recession, Brazil may be among the first to grow out of it


“NEVER before in the country’s history” is the catchphrase of President Luiz Inácio Lula da Silva that most annoys his opponents. The president, in his selective amnesia, would have voters believe that everything good about Brazil dates from his election in 2002. Even more infuriating for the previous government, which provided the precursors for progress but got no credit for it, he is often right. Take interest rates: on June 10th the central bank cut its benchmark SELIC rate to 9.25%, the first time the figure has been in single digits since the 1960s.

A host of measures, from the value of the stockmarket to the creation of credit, are now nearly back to their level before the collapse of Lehman Brothers in September last year. The economy performed less badly than expected in the first quarter: GDP shrank by only 0.8% compared with the last three months of 2008. Many analysts believe that Brazil is now starting to grow again, and will return to annual growth of 3.5% to 4% next year. If so, that would mean that the country has escaped with only a brief recession.

There are several reasons for this. One is that the normal business cycle is at work, as Arminio Fraga, a fund manager and former Central Bank president, points out. Brazil was overheating in the early part of last year, and the Central Bank raised interest rates. Now looser monetary and fiscal policy is speeding recovery. The financial system is sound, and domestic demand has remained robust. Brazil’s changing trade patterns have also helped to shield it. This year, for the first time, China overhauled the United States to become Brazil’s single biggest trading partner.

But familiar problems are also coming back into view. First among these, some think, is the real’s recent appreciation against the dollar (see chart). For exporters the currency is once again painfully strong, as it was before September. To ease the pressure, the powerful industrialists’ association in São Paulo wants to see some form of tax or restriction on short-term financial inflows. At the moment this looks unlikely. Left-wing economists in the governing Workers’ Party have been asking for the same thing for some time, but Lula has ignored them, preferring the Central Bank’s argument that the strong real is helping to curb inflation.

Industrialists might mind a bit less about the currency if borrowing were cheaper still. One obstacle to further cuts in interest rates, which remain high in real terms, is the existence of a popular savings account (called caderneta de poupança), which offers an 8-9% guaranteed interest rate. As the Central Bank’s headline rate approaches this level, the government frets about a flood of money into these accounts from investors, draining liquidity from the market for government bonds. It is mulling over whether to limit the number and size of poupança accounts, but tampering with this familiar product is politically difficult. Some opposition parties are stoking fears by unfairly reminding voters about a notorious bank raid by a previous president, Fernando Collor, in 1990 when the nation awoke to find much of its savings frozen.

A further bar to lower interest rates is that half of the goods that make up the main inflation measure, the IPCA, are at least partly indexed to the previous year’s inflation, says Sergio Vale of MB Associados, a consultancy. This tends to dampen movement in the IPCA, and encourages the Central Bank to be cautious.

Even so, Brazil’s never-before situation is leading to an uncharacteristic outbreak of long-termism. Bradesco, a large bank, has started to offer 30-year mortgages, something that would have been unthinkable a short time ago. Maílson da Nóbrega, a former finance minister, expects lower interest rates to bring a rapid expansion of mortgage finance, which at present amounts to just one percent of GDP.

Good things of this kind could still be delayed by a fresh outbreak of gloom abroad. But the debate is really about when they happen, rather than if—a testament to hard-won progress.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Serra, Kassab e os precatórios

A Bandeirantes não teve pena, mostrou mesmo, e quem perdeu pode ver no youtube.

Retratos da Crise

terça-feira, 9 de junho de 2009

Azenha: Por que os jornais investem contra o blog da Petrobras?

Do blog Vi O Mundo.

Por que os jornais investem contra o blog da Petrobras?

por Luiz Carlos Azenha

1) Porque perdem o "monopólio da informação" e, com isso, autoridade sobre o público;

2) Porque os leitores agora podem saber quais são TODAS AS PERGUNTAS feitas pelos jornais à Petrobras;

3) Porque comparando todas as perguntas feitas pelos jornais e todas as respostas dadas pela Petrobras com o que é efetivamente publicado os leitores podem descobrir as manipulações feitas com as respostas no processo de edição;

4) Porque essa comparação permite ao público descobrir quais as respostas da Petrobras serão simplesmente omitidas do jornal impresso para não "atrapalhar" a pauta;

5) Porque comparando as perguntas feitas pelos diferentes jornais, o público pode entender que há gente alimentando simultaneamente os jornais com informações em busca de levantar a bola para a CPI;

6) Porque as perguntas fornecem pistas sobre quem está alimentando os jornais com o objetivo de criar o "escândalo" necessário ao sucesso do palanque eleitoral da CPI;

7) Porque essas pistas poderão levar o público a descobrir que os jornais são usados em campanhas eleitorais ou com objetivos inconfessáveis, como o de entregar o pré-sal a empresas estrangeiras;

8) Porque o blog da Petrobras desloca público do jornal impresso para a internet, onde o público poderá receber informações, por exemplo, sobre como a grande imprensa brasileira atacou Getúlio Vargas quando ele criou a Petrobras;

9) Porque todo esse processo pode deixar claro que a grande imprensa não é isenta, nem imparcial, nem honesta; que diz não ter lado, mas tem; que está a serviço de "uma causa", assim como esteve quando fez campanha contra a criação da Petrobras ou em favor do golpe militar de 1964;

10) Porque eles ainda não sairam do século 20.

O Blog da Petrobras

O blog da Petrobras pode ser um fato importante da evolução da mídia brasileira.

Segundo o próprio blog, "Neste blog, apresentaremos fatos e dados recentes da Petrobras e o posicionamento da empresa sobre as questões relativas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Leia, comente e divulgue para seus amigos." Ou seja, a Petrobras não depende de conquistar seu direito de resposta nos tribunais, tem seu próprio portal.

Acesse o blog da Petrobras.

Leia o texto do blog O Biscoito Fino e a Massa abaixo:

O blog da Petrobras e o desespero da mídia

Não há dúvidas: o blog da Petrobras é a grande novidade da semana. A ideia em si é bastante banal. Uma empresa faz uso de uma plataforma gratuita de publicação online – o Wordpress – para abrir um blog e se comunicar diretamente com o público. Não há nessa ideia, tomada isoladamente, nada que justifique maior festa ou grandes reações de repúdio. Mas chegou a tal ponto a revolta com a manipulação da mídia brasileira e sua visível campanha de ataques à Petrobras que a inauguração do blog tem sido tratada, pela grande maioria, como uma verdadeira revolução e, por uma minoria ligada à mídia, como uma espécie de trapaça, de alteração das regras do jogo. Se a Petrobras agora publica a íntegra das perguntas que recebe, junto com suas respostas, os jornalões vão fazer o quê? Como vão esconder a fábrica de linguiças? Neste contexto, o Animot está corretíssimo: o blog da Petrobras é um marco.

O desespero do jornal Folha de São Paulo levou à invenção de uma sensacional jabuticaba, a fonte que deve sigilo ao entrevistador, a pergunta jornalística em off. É a cara-de-pau e a cretinice dos oligopólios de mídia elevadas à última potência. As instituições enxovalhadas pela sua manipulação lhes devem, além do mais, sigilo sobre quais foram as perguntas feitas. Já não basta acusá-las de “censoras” quando elas se insurgem contra a mentirada. Elas devem, agora, aceitar falar só pelas paráfrases criminosamente mentirosas dos jornalões. Ou pelo menos silenciar até que estas tenham aparecido. Os jornalões querem ter o monopólio das perguntas e das respostas.

Com uma “matéria” intitulada Petrobras vaza em blog informações obtidas por jornalistas, a Folha afirma que a Petrobras criou um blog para vazar informações obtidas por jornalistas que investigam indícios de irregularidades nos negócios da estatal. Evidentemente, o uso do verbo “vazar” é incorreto e manipulador. “Vazamento” pressupõe informação protegida e sigilosa, além de sugerir ilegalidade. É óbvio que não há nada ilegal no que fez a Petrobras. Ela simplesmente revelou quais eram as perguntas feitas e apresentou as suas respostas. Isso, no Brasil de hoje, é motivo de compreensível júbilo para a maioria e desespero agônico para os últimos defensores que montam guarda às portas da moribunda fábrica de linguiças.

Em menos de 48 horas no Twitter, o @blogpetrobras já se aproximava da terceira centena de seguidores e acumulava milhares de citações. O blog já recebeu mais de 65.000 visitas desde que o contador foi instalado. O desmascaramento dos jornalões vai acontecendo com notável rapidez: a barrigada da Folha, as mentiras d'O Globo sobre a mamona, a sequência de mentiras da Folha sobre a “contratação” do MBC.

Apesar de que há vários comentários críticos e questionadores publicados no blog da Petrobras, é verdade que a maioria saúda o blog e lhe oferece apoio. Esse fato foi suficiente para que Reinaldinho Azevedo acusasse a estatal de estar “censurando comentários”. É a cara-de-pau elevada à enésima potência. A acusação vem de um blog em que comentários críticos a seu autor, ainda que polidos e respeitosos, só são aprovados por descuido (sendo depois imediatamente limados). Não lhe ocorre a hipótese óbvia: nós estamos em esmagadora maioria.

Indícios?

O valente Sergio Leo defendeu a jabuticaba da fonte que deve sigilo ao entrevistador. Segundo ele, isso se deve a um "pacto" que garantiria ao jornalista o seu furo. O engraçado é que o post do Sergio foi publicado justo no dia em que o próprio ombudsman da Folha reconheceu que não há nada mais velho que o jornal de hoje. Depois de 50 comentários, Sergio só havia recebido o apoio de um único leitor. O blog A Nova Corja nos proporcionou a piada da semana, ao caracterizar o blog da Petrobras como um “acosso a jornalistas”. Os jornalismo brasileiro anda tão combalido que a mera criação de um blog é suficiente para acossá-lo. Depois de 30 comentários, a tese defendida pelo autor não havia recebido o apoio de ninguém.


PS: A iniciativa da Petrobras tem um precedente. Não sei se ele foi fonte de inspiração para a estatal, mas vale lembrar que, durante o recente achicalhe promovido pelo jornal O Estado de Minas contra a Universidade Federal de Minas Gerais, a instituição pediu direito de resposta várias vezes, inclusive enviando o seu Procurador pessoalmente ao jornal. Esse direito foi sempre negado. A UFMG passou a responder pela própria internet até que, num acesso de extraordinária cara-de-pau, o Estado de Minas foi pedir direito de resposta no site da universidade!

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Observatório da Imprensa: Amazônia é notícia, imprensa não vê

Amazônia é notícia, imprensa não vê

Por Luciano Martins Costa em 4/6/2009
Comentário para o programa radiofônico do OI, 4/6/2009

A questão fundiária e o desafio da preservação ambiental se misturam no noticiário das edições de quinta-feira (4/6) dos principais diários, mas apenas os leitores mais atentos vão se dar conta de que os dois fatos estão interligados.

Os jornais noticiam que o Senado Federal aprovou a medida provisória que autoriza o governo a transferir para particulares, sem licitação, terras da União na Amazônia. Sob protestos de representantes do movimento ambientalista, acabou sendo aprovada a versão da relatora, a senadora Kátia Abreu, ligada à bancada ruralista e inimiga declarada do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.

O texto original da Medida Provisória 458 previa a legalização de 300 mil propriedades ocupadas por particulares desde o período anterior a 1º de dezembro de 2004. No entanto, alterações produzidas durante o processo de tramitação na Câmara dos Deputados acabaram favorecendo um número maior de ocupantes ilegais das terras federais, e o total de beneficiados poderá chegar a 400 mil.

A senadora e ex-ministra Marina Silva tentou aumentar o controle sobre o processo de transferência e limitar a concentração de grandes áreas em mãos de poucos proprietários e desestimular a especulação na região, mas suas propostas foram rejeitadas. Ela queria proibir a venda das propriedades legalizadas, de todos os tamanhos, num período de dez anos após a regularização, além de deixar de fora os interessados que não ocupam diretamente as terras.

Primeiro passo

Segundo os jornais, o resultado final da votação desagradou também os ruralistas, que defendiam regras mais elásticas para o processo de transferência definitiva. No final, ficou decidido que as grandes propriedades poderão ser revendidas três anos depois de legalizadas, enquanto as propriedades menores só poderão mudar de dono dez anos após a legalização.

O patrimônio público a ser transferido para particulares é calculado em 70 bilhões de reais.

A legalização fundiária é considerada, por especialistas, como o primeiro passo para a efetivação da legislação de proteção ambiental, pois, sem a propriedade das terras, fica praticamente impossível punir os desmatadores.

Um problema marginal

A despeito da importância do acontecimento, a aprovação da medida provisória que estabelece as regras para a legalização da posse da terra na Amazônia não tem merecido da chamada grande imprensa o destaque necessário. Para compor este comentário, por exemplo, foi preciso recorrer a outras fontes de informação além dos jornais de quinta-feira (4).

Alguns leitores que acompanham o noticiário sobre a Amazônia lembram-se, certamente, de que a imprensa costuma cobrir os conflitos na região, e devem estranhar que a mesma atenção não seja dada à tentativa de solução do problema.

Com a pouca informação disponível na imprensa, torna-se difícil formular uma opinião sobre os efeitos da medida provisória aprovada pelo Congresso. Existem controvérsias mesmo entre os especialistas e militantes de movimentos ambientalistas. Para alguns, a regularização da propriedade das terras pode facilitar a implantação de projetos de desenvolvimento sustentável, como o crescente movimento pelo manejo florestal. Para outros, a legalização das terras vai facilitar e estimular a penetração da pecuária em áreas que deveriam ser protegidas.

Disputa por espaço

Ao tratar a questão amazônica como um problema marginal aos interesses do Brasil, longe demais dos grandes centros de decisão, a imprensa contribui para manter o brasileiro das grandes cidades alienado das questões que envolvem o território mais rico em biodiversidade de todo o planeta.

A falta de informações estimula a proliferação de mitos e histórias mirabolantes sobre a desnacionalização da Amazônia, quando na verdade os grandes inimigos da floresta são os próprios brasileiros.

Na disputa pelos espaços da mídia e pelo poder de influenciar decisões importantes, a desinformação favorece os responsáveis pela destruição da biodiversidade.

Uma sociedade desinformada tem poucos recursos para defender seu patrimônio e seus próprios interesses.