sexta-feira, 10 de julho de 2009

Dois pesos...

Na terça-feira passada (07/07), o presidente Lula recebeu da Unesco, em Paris, o prêmio Félix Houphouët-Boigny, concedido àqueles que prestam valorosos serviços pela paz no mundo. Com ele já foram agraciados nomes do quilate de Nelson Mandela, Yasser Arafat e Jimmy Carter.

Em situação análoga a do presidente, o economista bengalês Muhammad Yunus no ano de 2006,foi o vencedor do Nobel da Paz pelo seu memorável combate contra a pobreza na Índia. Yunus é fundador do Grameen, o "banco dos pobres", cuja finalidade é conceder microcréditos para a população hindu menos favorecida.

A lógica da premiação de Lula segue a esteira do exemplo acima: o precípuo combate contra a fome, a miséria e a pobreza. E qual a relação disso com a paz? Um quadro de pessoas bem nutridas e com qualidade de vida digna é sem dúvida um eficiente remédio preventivo contra a proliferação de agruras sociais onde dentre as quais se encontra a violência.

Ambas as premiações concebem uma tendência recente das Nações Unidas em extender o sentido da luta pela paz abrangendo situações correlatas e de efeitos reflexos em sua consecução; não existe prêmio Nobel da Economia nem do Combate a Fome, por exemplo, mas é inegável que o respeito à dignidade da pessoa humana proporcionada por tais espécies de contribuições gera inegáveis resultados também nos âmbitos da paz e da harmonia social. Nesse sentido, a ONU já concedeu o aludido prêmio pela luta em favor dos direitos humanos bem como pela defesa do meio-ambiente, consolidando o sentido abrangente da militância pela paz.

Contudo, em que pese ter o Presidente da República recebido tamanha graça internacional, seara na qual o reconhecimento pelas íngremes e sucessivas diminuições nos índices de miséria e pobreza no Brasil é quase que unânime, portou-se a imprensa brasileira com a indiferença típica de quem se move por interesses políticos e escusos: tímidos cantos de página e rodapés foram reservados à veicular tal notícia. Mais previsível, impossível.

No dia seguinte, o governador de São Paulo, o tucano José Serra, para não ficar por baixo postou em sua página no Twitter que estava em Genebra, Suiça, para receber um prêmio da ONU por seu trabalho a frente do Ministério da Saúde entre 1998 e 2002 durante o governo FHC . A postagem dizia ainda que o governador faria um discurso de agradecimento no plenário do Conselho das Nações Unidas.



Todavia, a versão de Serra merece algumas "ressalvas", por assim dizer.

Luis Nassif desmascarou a verdade por trás da suposta premiação. A honraria não foi concedida pela ONU, e sim por uma ONG (World Family Organization – WFO) ligada à mesma e sediada Curitiba (PR), cuja presidente é a brasileira Deisi Noeli Weber Kusztra. A responsabilidade pelo prêmio é exclusiva da WFO. Ademais, não houve qualquer discurso de Serra no plenário nas Nações Unidas. Para mais informações clique aqui.

Eis uma nota oficial da própria ONU:


A World Family Organization (WFO) não é uma entidade da Organização das Nações Unidas (ONU). Trata-se de uma Organização Não-Governamental (ONG), com sede em Paris, associada ao Conselho Econômico e Social (ECOSOC) da ONU, com status consultivo, e associada ao Departamento de Informação Pública (DPI) da Organização.
As ONGs associadas ao ECOSOC e afiliadas ao DPI não representam a ONU nem podem, em qualquer hipótese, falar em nome da Organização. Seu papel é de colaborar com as Nações Unidas, de forma voluntária, ajudando na divulgação das atividades da Organização e, no caso do ECOSOC, contribuindo com sugestões às atividades do Conselho.
Valéria Schilling
Assessora de Comunicação
Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio).

Eis agora a ficha da presidente que premiou José Serra:

Deise Noeli Weber Kusztra vai ter que prestar contas do período em que foi diretora geral da Associação Sazza Lates. A decisão é referente ao processo que tramitava desde 2003 na décima oitava vara cível. Deise dirigiu a entidade filantrópica de 1987 até 2000. O diretor que assumiu no lugar dela, Paulo Azzolini, diz ter encontrado a Saza Lattes com um furo de R$ 592 mil no caixa. Paulo Azzolini diz que boa parte da quantia saiu da entidade através de cheques de R$ 40 mil cada que eram descontados por um funcionário. Foram sete cheques descontados entre fevereiro e setembro de 2000.
Outra fraude freqüente, segundo Paulo Azzolini, era a movimentação de recursos para pessoas e entidades sem qualquer relação com a Saza Lattes. Esse tipo de movimentação teria sido constatado em uma auditoria que revelou que o buraco no caixa da associação era ainda maior.
http://www.cbncuritiba.com.br/index.php?pag=noticia&id_noticia=3924&id_menu=136&conjunto=&id_usuario=%ACicias=&id_loja=&PHPSESSID=d033903cc9042d4a0ea9f8ef77828721

Alguém duvida que, ainda assim, a imprensa dará muito mais relevo ao prêmio de Serra que ao de Lula?

Um comentário:

Anônimo disse...

E Lula lá presta?