segunda-feira, 6 de abril de 2009

Engenharia brasileira no contexto internacional

Texto de Ângelo, postado no blog de Nassif.
Link original aqui.


Os Salários e Os Cérebros

Por Ângelo

Estou envolvido com um projeto de microeletrônica que está debaixo do guarda chuva do programa CI-Brasil para formação de mão de obra em projeto de circuitos integrados e para projeto e produção de circuitos integrados no Brasil. Venho me perguntando há algum tempo como aproveitar a onda e, além de repatriar nossos cérebros, recrutar engenheiros nos EUA e na Europa.

Na Europa é tarefa mais fácil, pois os salários lá estão quase que nivelados com os do Brasil. Há um ano fiz uma visita a uma empresa francesa, em Toulouse, que é fornecedora tanto da Airbus quanto da Agência Espacial Européia. Os diretores da empresa se assustaram com o valor da nossa hora técnica, que estava no mesmo patamar da hora técnica deles. Eles esperavam custos de engenharia bem mais baixos no Brasil pela falsa percepção de que somos país atrasado e temos mão de obra mais barata.

Também tive contato com um engenheiro da Fiat, brasileiro com mais de dez anos de experiência em mais de uma fábrica de automóveis em SP. Ele admitiu sair do Brasil para trabalhar na Fiat italiana exclusivamente para ter no currículo a experiência internacional, pois seu salário nominal lá na Itália é MENOR do que no Brasil. Engenheiros na Europa estão ganhando entre € 1.500 e € 3.000 por mês, perfeitamente compatível com o que bons engenheiros ganham no Brasil.

Nos EUA percebo que no pujante Vale do Silício, a região mais rica do estado mais rico da nação mais rica do mundo, na Califórnia, os empregos são perdidos às centenas. O capital de risco que historicamente financiou as empresas nascentes no Vale está retraído. Empresas de projetos não conseguem clientes e novas empreitadas. Mesmo empresas do porte da Intel já começam a demitir às centenas, às vezes milhares como é o caso da IBM.

A formação em ciências exatas que temos no Brasil é tão boa quanto a fornecida nas melhores escolas brasileiras como USP, Unicamp e UFMG. A diferença é que eles formam numa escala muito maior e, diferença fundamental, não existe indústria inovadora no Brasil que absorva nossa capacidade intelectual.

A grande diferença que a importação desses cérebros fará para nosso país é trazer sua experiência em projetos de alta tecnologia e fazer a transferência de know how para nosso pessoal. Mas aí caímos no seríssimo problema da falta de uma indústria nacional disposta a promover e usar a inovação tecnológica. O empresário brasileiro, inclusive na perspectiva histórica, não gosta, não usa e não contrata tecnologia nacional, preferindo importar caixas pretas do exterior.

O melhor exemplo talvez seja o da Embraer, que foi alvo de calorosa e edificante discussão neste blog recentemente. A Embraer há bastante tempo desistiu de fazer inovação e hoje se limita a ser uma montadora. Não foi criada uma cadeia produtiva em torno da Embraer e isso causou um enorme prejuízo à nossa soberania.

Então não basta que importemos os cérebros do primeiro mundo. É necessário fazer com que a indústria nacional absorva os produtos e projetos que eles porventura venham a desenvolver em terras tupiniquins.

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