domingo, 26 de abril de 2009

Os servos de Dantas

por Gustavo Barbosa

No jogo de xadrez, as peças são dispostas no tabuleiro de forma a, em uma verossímil reprodução dos ferrenhos combates medievais, salvaguardar aquelas que seriam de maior importância: o rei e a rainha. Assim, não importa a estratégia de defesa adotada, os peões, o bispo, o cavalo e a torre convergem todos na defesa dessas duas peças as quais, se capturadas pelo adversário, tiram chances significativas de vitória – no caso, a rainha – ou findam de vez o combate – em tratando do rei -, em mais uma projeção da realidade feudal, onde a invasão do castelo alheio seguida da destronação do seu monarca é quase sempre o ponto alto das vitórias das guerras e batalhas da Idade média.

Apesar da menor importância, as demais peças possuem valor fundamental na defesa de suas figuras reais, dado que, uma vez derrubadas, abrem passagem para que se atinja a jugular da realeza, acarretando, assim, na derrota. Tal exemplo projeta-se de forma perfeita tanto no embate ocorrido entre os ministros do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes ocorrido na semana passada como na reação da Veja em relação ao acontecido: Mendes (o bispo branco), peça de posição estratégica na defesa do rei (Daniel Dantas), ao ser alvejado pelo exército negro (Joaquim), provocou de forma imediata a reação da torre (Veja) para neutralizar os ataques do exército adversário (o trecho reproduzido é de sua última edição):

O DIA DE ÍNDIO DE JOAQUIM BARBOSA


A descompostura quase provoca uma crise institucional no STF por causa do destempero de Joaquim Barbosa – justo ele, um ministro símbolo de coragem, cultura, inteligência e elegância


(...)Na semana passada, durante uma rude discussão sobre a aposentadoria de servidores do Paraná, o ministro Joaquim Barbosa atacou o presidente Gilmar Mendes com uma série de acusações sem fundamento que ele leu em algum panfleto partidário. (...)

Que a Veja se pauta pelos cambiantes e malcheirosos ventos da conveniência política e econômica é uma coisa óbvia que todos sabemos, mas se ainda havia quem não houvesse enxergado isso, agora não há mais desculpas: no momento em que o ministro Joaquim Barbosa fora relator do Mensalão e pediu o indiciamento dos seus envolvidos, fora alçado à capa do semanário da Abril com loas de herói; hoje, é taxado como “destemperado” e “desfundamentado”. As opiniões da Veja possuem consistência semelhante a de uma gelatina exposta ao sol do meio-dia.

Mendes, por sua vez, possuindo ligação umbilical com Daniel Dantas - senhor da Veja até mais que o próprio Victor Civita -, ao ver seus intestinos expostos à coletividade pelo ministro Joaquim, viu-se nu diante da opinião pública; Mendes, serviçal inveterado de Daniel Dantas como um Cérbero fiel que não poupa forças para proteger as portas do Tártaro, fora confrontado por um Hércules - representado na figura do ministro Joaquim - sem nenhum receio de chegar até Hades – Dantas - com seus ousados ataques. A Veja, naturalmente, não podia deixar isso passar em branco, colocando-se com reflexo felino em defesa de Mendes ao voltar seu belicoso arsenal verborrágico e panfletário contra aquele que, há pouco mais de um ano, protagonizara sua capa como herói da República.

A torre, em defesa do bispo e em nome do rei, evitou mais uma vez o xeque-mate. Só lembremos que, por mais que ainda haja aqueles que insistam na tese de que entre Dantas, Veja e Mendes não há ligação, ao final da partida todas as peças do mesmo exército são guardadas, sempre, na mesmíssima caixa.

Um comentário:

Anônimo disse...

A comparação com o jogo de xadrez foi espetacular. O texto desvirtua a idéia de uma mera divergência entre os minitros, e focaliza o que realmente acontece entre com os vínculos de informação.

Ass: Amanda D' Cássia